Os lajenses vivem uma grave crise de alimentação com a falta de peixe.
Outrora, abundava no “limpo” o chicharro e, em certas “marcas” as cavalas e os bonitos. Outras espécie apanhavam-se todo o ano, com mais ou menos abundância, pois havia certos pescadores que só a essas espécies se dedicavam: o Mestre Bento, o Mestre João Luís, os Garcias, o Luís Sabina, e tantos outros, que os havia, mestres de verdade, e que à pesca iam quando não aparecia baleia, pois esta caça estava em primeiro lugar. Hoje parece que tudo acabou.
Se ainda há barcos de pesca, e eles não são poucos os que estão amarrados no porto interior, o pescado desapareceu porque uma instituição denominada LOTA, se fixou na Vila da Madalena onde todo o pescado deve ser apresentado. Resultado: só cá aparece aquele restolho que não é capaz de ser exportado para o continente.
Recordar as pescas antigas do bonito, da cavala e do chicharro (no continente chamam-lhe carapau), é trazer à memória de muitos uma época de abundância em que o peixe aparecia por aí, ora fresco, ora seco. E seco porque as grandes quantidades de chicharro, apanhado durante a noite, eram preparadas para secar ao sol e, durante os meses de inverno, vendidas nas freguesias rurais ou trocadas por milho e outros produto agrícolas, quer aqui no Sul do Pico quer na ilha do Faial. Constituía a base principal da alimentação das populações destas ilhas. Hoje é negócio que não se faz. O Limpo está “limpo”. O peixe desapareceu dali. Há quem diz que a baleia ou o cachalote, dele se alimenta e de outras espécies; de tudo o que lhe chega à grande “bucarra” e onde são absorvidas às toneladas. Se esta não for a versão, para onde caminhou o peixe que tanto abundava nestas costas? Não será motivo de estudo para os cientistas interessados que muitos há?
E passamos a viver, quase só, de congelados, com não poucos motivos da saúde agravada.
Ainda há quem se lembre do caldo de peixe, cozinhado com pescado acabado de chegar do mar e que era uma verdadeira delícia.
Até os marinheiros dos iates o sabiam cozinhar e, quando o conseguiam adquirir nos portos de São Jorge, a caminho da Terceira, faziam uma jantarada excelente para si e para alguns passageiros convidados, pois nem todos podiam suportar o cheiro e as baforadas do caldo a ferver em grandes tachos. Mas esse tempo passou. Hoje ninguém dele se lembra. Mas há quem se lembre ainda do caldo de peixe “à moda do Pico.”
Não é assunto novo nestes crónicas. Há anos (17-10-2011) falei dele, neste mesmo “Cantinho”. Ninguém lhe “ligou”. E continuamos a ter um espaço para a venda de peixe da Lota (congelado?), instalado num antigo contentor, quando antes das obras do porto tínhamos uma casa - pesqueira, construída pela Câmara Municipal e que não foi substituída.
Estão-se a fazer obras na zona do antigo campo de jogos, que vão passar pela Lagoa, mas nada se vê que seja para dar um melhor arranjo à venda de peixe ao público. O pescado chega do mar e desaparece para a zona da Lota a trinta e cinco quilómetros de distância, para voltar, nem sei quando, para a “Peixaria” local, embrulhado em gelo que lhe dá o aspecto de fresco...
E as baleias vão-se aproximando da costa, fazendo desaparecer o chicharro, a cavala outras espécies mais...
E continua a proibição da apanha de lapas. Os polvos desapareceram. As redes e os tresmalhos que eram deitados, principalmente no Inverno, nas lagoas da Maré e do Caneiro, e que faziam boas colheitas, estão proibidas, bem como as tarrafas. Tudo vai sendo proibido para só ficar a lota na Madalena. Isso pouco importa se não fossemos prejudicados nos nossos direitos de cidadãos livres...
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